Pré-candidatos a Governador de Minas Gerais se encontram no Mineirão

Deixe um comentário

Arquivado em Exclusivas, Vídeos

Fui ao lançamento da pré-candidatura do Lula e não achei o candidato

Deixe um comentário

Arquivado em Exclusivas, Vídeos

Sherlock Holmes é brasileiro

sherlock brasileiro_cede silva
No conto “A Liga dos Ruivos” (1891), o dono de uma pequena loja de penhores vai buscar os serviços de Sherlock Holmes. O nome dele é Jabez Wilson. Tudo começou quando Wilson contratou um ajudante que aceitou receber metade do salário de mercado. Olhando para o próprio bolso, o patrão decidiu que estava bom assim – se o assistente aceitava, por que pagar mais?

Um dia o assistente chegou à loja e mostrou um anúncio de jornal ao patrão. Havia sido aberta uma vaga numa tal Liga dos Ruivos, que basicamente rendia um bom salário sem exigir trabalho nenhum – só ficar no prédio da Liga durante meio período. Ganancioso – e ruivo – o Seu Wilson foi tentar a “entrevista de emprego”.

Chegando lá, encontrou a rua entupida de candidatos ruivos de todos os matizes. Todos queriam a renda da Liga. Mas Wilson teve sorte. O entrevistador entendeu que o verdadeiro ruivo cor-de-fogo estava apenas na cabeleira dele!

Wilson passou a ficar no prédio da Liga dos Ruivos todos os dias das 10 às 14 horas, copiando a ‘Enciclopédia Britânica’ para passar o tempo, sem nenhuma supervisão. Recebia para isso quatro libras por semana (na época, muito dinheiro), e era pago em dia.

Até que um dia, sem mais nem menos, Wilson se deparou com este aviso na porta: “A Liga dos Ruivos foi extinta”.Tendo perdido a boquinha, Seu Wilson foi então procurar Sherlock Holmes para entender o que acontecera.

Acontece que o tal ajudante que aceitou receber um baixo salário era um ladrão e tinha um comparsa. Enquanto Seu Wilson ficava de aspone na Liga dos Ruivos, os dois cavavam um túnel no terreno da loja de penhores dele, que era próxima a um banco. Sherlock arma uma tocaia no banco e prende os dois em flagrante.

O conto, que parece ser uma história de mistério, carrega uma lição sobre desconfiar do que parece bom demais para ser verdade. Por que o Seu Wilson não desconfiou de um ajudante que aceitava receber meio salário? E mais ainda, como caiu em um conto tão maluco quanto esse da tal Liga dos Ruivos?

Nós no Brasil temos várias Ligas dos Ruivos – vários esquemas fabulosos nos quais muita gente quer acreditar, mas que são insustentáveis. Um deles é o nosso sistema de previdência, especialmente aquele dos funcionários públicos e que envolve salário integral. Se você contribui para a previdência apenas uma parte do seu salário (e não seu salário inteiro) por X anos, com que mágica vai receber o salário inteiro pelos mesmos X anos depois de aposentado? É claro que a conta não tem como fechar.

O mesmo vale para a convivência do ódio aos políticos com o amor ao Estado. Desconfiado e fulo com os políticos, o cidadão exige cada vez mais serviços e atribuições do Estado – o que claro, não tem como dar certo. E “de graça”.

Também temos aqui a incrível “esquerda Uber”. Trata-se de uma casta de acadêmicos e intelectuais que são apaixonados defensores da CLT, mas vivem andando pelas cidades de Uber – cujos motoristas, como todos sabemos, não têm a carteira assinada pela empresa. Essa mesma casta é absolutamente apaixonada pela ideia do “passe livre”, sem nunca parar para pensar que motoristas de Uber e perueiros oferecem um serviço mais barato e democrático que seus concorrentes chancelados pela prefeitura, enquanto os táxis e ônibus seguem cada vez mais caros.

Na raiz da perpetuação de todos esses mitos está a Síndrome do Senhor Wilson: a ideia de que sim, *eu* sou um ruivo especial, o verdadeiro ruivo cor-de-fogo, e portanto eu mereço me aposentar com salário integral / esse serviço de graça / andar de Uber mas exigir que a CLT não mude. Elementar.

***
(Nota: este artigo foi publicado originalmente em minha coluna semanal no Implicante).

Deixe um comentário

Arquivado em Colunas

A Lava Jato chegou ao Foro de São Paulo

lava jato no foro de sao paulo_cede silva

Ignorado por 13 de cada 10 analistas internacionais com espaço na grande imprensa do Brasil, o Foro de São Paulo é um dos fenômenos mais importantes na história recente da América Latina. Trata-se da aglomeração dos principais líderes e partidos de esquerda do continente, quase todos eles vitoriosos em seus países: Cuba, Venezuela, Brasil, Bolívia, Equador, El Salvador, etc. É verdade que nos últimos anos o Foro tem sofrido algumas derrotas, mas a solidariedade dos seus membros segue atuante. Durante o impeachment de Dilma, por exemplo, alguns presidentes estrangeiros se declararam contra o processo. Imaginem qual seria a reação da esquerda brasileira se um presidente estrangeiro se declarasse a favor…

Como nem a imprensa nem a academia investigam muito o Foro, pouco se sabe, por exemplo, sobre o financiamento da organização, que realiza (para citar uma atividade prática que custa dinheiro) encontros anuais em hotéis. Tínhamos acesso apenas a informações pontuais, como por exemplo que o programa Mais Médicos foi concebido para patrocinar a ditadura cubana. Também já era conhecida a atuação do ex-poderoso João Santana, o de facto 40º ministro de Dilma, em eleger presidentes no exterior. Mas agora muito mais informação sobre o Foro será revelada, graças à Lava Jato.

Reportagem de “O Globo” dá conta de que a Lava Jato já interrompeu obras em seis países latino-americanos: Argentina, Cuba, Guatemala, Honduras, República Dominicana e Venezuela. O país com o maior volume de recursos, adivinhem só, é a Venezuela. Segundo o jornal, “[o]s projetos [suspensos] somam US$ 5,7 bilhões e representam 58% do valor destinado pelo banco para financiar a exportação de serviços de engenharia brasileiros na região entre 2003 e 2015”. O ano de 2003, claro, não está lá à toa. Segue o jornal:

“Nas últimas décadas, o Brasil se mostrou um parceiro endinheirado e exerceu seu poder para atrair aliados políticos na América Latina, Caribe e África. Entre 2005 e 2010, os empréstimos do BNDES quase quadruplicaram em dólares. Em um único ano, 2010, o banco brasileiro chegou a emprestar quase US$ 100 bilhões, três vezes o valor investido pelo Banco Mundial (Bird).”

As delações dos executivos da Odebrecht e o inevitável avanço da Lava Jato sobre o BNDES vão revelar muito ainda sobre como se deu a ascensão da esquerda na América Latina durante os anos 2000. Um tópico que, por incrível que pareça, não parece interessar muito aos acadêmicos ou jornalistas de esquerda da América Latina…

Uma reação possível às novas revelações será dizer que como a esquerda está sofrendo derrotas agora, então o Foro nem foi tão relevante assim. Já tem acadêmico dizendo isso à BBC. É um raciocínio saboroso. Por essa lógica, o Império Romano, o feudalismo e a União Soviética não foram relevantes. Afinal, eles já acabaram…

1 comentário

Arquivado em Colunas

O PT perdeu votos, mas ainda tem muitos ônibus

pt votos onibus_cede silva

DIZ A LENDA QUE STALIN certa vez zombou da força do Papa: “O Papa? Quantas divisões ele tem?”. Não tenho a resposta para essa pergunta, mas sei que o PT ainda tem algumas dezenas de ônibus.

Massacrado nas eleições municipais e derrotado na votação da PEC 55, o PT não tem votos nem nas urnas nem no Senado. Com efeito, como já mostrou este Implicante, o PT perdeu votos no Senado em relação à votação do impeachment de Dilma — de 20 para 14. Mas como o partido nunca foi afeito ao jogo democrático, não está disposto a perder de graça. Nesta terça (29), em Brasília, vândalos realizaram mais um “protesto pacífico” típico da turma, virando um carro de reportagem, ateando fogo em outro, e depredando caixas de correio, bancos e os prédios de vários ministérios — tudo em nome do respeito ao patrimônio público, claro. Esses vândalos absolutamente apartidários foram entusiasticamente defendidos por deputados federais petistas e por lideranças dos seus AstroTurfs¹ de sempre.

Na noite de terça (29.nov.16), no Twitter, vi algumas das mais absurdas justificações para a violência, incluindo dizerem que haviam virado um carro para se defender (o fulano é o Hulk?) e que num momento de luto nacional não se deveria fazer política (e fazer protesto, especialmente violento, é o quê?).

Nenhum veículo de imprensa fez a pauta mais óbvia: relacionar a violência de terça com as longuíssimas invasões de escolas, todas elas com pichações “Fora Temer”. A imagem acima mostra que pichadores deixaram registradas no prédio do MEC algumas das suas escolas de origem. Quem pagou os ônibus que levaram os estudantes a Brasília? Onde se hospedam e quem paga? Ninguém da imprensa está interessado em fazer essa reportagem, mas já tivemos que ler da pena de alguns colunistas perguntas do tipo “quem financia os panelaços?”.

A violência de terça-feira (29.nov.16) mostra (mais uma vez) que o núcleo de poder do PT não está em Brasília, mas nas escolas de todo o Brasil. Muitos professores, diretores, reitores etc. são agentes diretos da quebradeira, ao desenvolverem um ambiente na escola no qual alunos viram militantes, crentes de que estão numa revolução e que em nome dela tudo se justifica — afinal, “não reconheço governo golpista”. Naturalmente, esses próprios professores não vão lá dar a cara a tapa, mas têm muito orgulho dos seus jovens rebeldes que obedecem rigorosamente suas cartilhas.

A turma que vai protestar neste domingo (04.dez.16) deve comparecer às ruas não apenas em defesa da Lava Jato, mas para marcar, mais uma vez, que nossa diferença é não apenas de pauta, mas de método. Sem um só ato de depredação, derrubamos uma presidente. A Lava Jato, que nós apoiamos e eles nunca, pôs na cadeia Eduardo Cunha, que, se dependesse deles, estaria no poder desde que não ameaçasse Dilma (com Lula ministro). Eles seguem quebrando e seguem perdendo votos. Mas ainda têm as escolas e os ônibus.

¹ AstroTurf, uma famosa marca de grama sintética, é termo utilizado para designar os “laranjas” políticos de um partido; ex. “Frente Brasil Popular” e “Frente Povo Sem Medo” são nomes diferentes do PT, que também é comercializado sob as marcas “PSOL”, “Rede”, “professor universitário”, “colunista da Folha” e muitas outras.

***

(Nota: este artigo foi publicado originalmente em minha coluna semanal no Implicante).

 

Deixe um comentário

Arquivado em Colunas, Uncategorized

A Lava Jato é a nossa revolução possível e deve ser preservada

lava jato revolucao_cede silva

NA SÉRIE ANIMADA “DEATH NOTE”, um jovem estudante vê cair do céu um caderno mágico. Ao escrever um nome em suas páginas, a pessoa nomeada morre em 40 segundos. O protagonista da história decide usar o caderno para trazer ao mundo sua versão de justiça, matando milhares de criminosos ao escrever os nomes deles.

Filmes mais recentes de Tarantino também imaginam formas violentas de justiça. Os protagonistas levam dor, sofrimento e morte a nazistas ou a donos de escravos.

Parte do apelo dessas histórias — bem como do discurso populista da “bancada da bala” e dos programas policiais vespertinos — está na percepção da impunidade. Acreditamos que criminosos — no passado e no presente — não tiveram a punição que mereciam. Por causa disso, muitas pessoas estão dispostas a aplaudir ou eleger líderes com narrativas semelhantes — que prometam retribuição, vingança ou punição aos bandidos, aos corruptos, etc.

O Brasil ganhou um enorme presente em 2014. Uma revolução possível, e inteiramente dentro da lei. A turma de Curitiba responsável pela Lava Jato está há mais de dois anos fazendo tudo ao seu alcance para colocar os maiores e mais perigosos bandidos do Brasil na cadeia. Sem bancada da bala, sem tortura, sem populismo — sem disparar um único tiro.

É impossível prender políticos sem fazer política. A turma de Curitiba sabe disso. Com uma estratégia até agora sem nenhuma falha grave, conseguiram estar sempre dois passos à frente da imprensa e dos criminosos. Mas como vimos pelo comportamento da Câmara dos Deputados nesta quinta (24), a Lava Jato não se sustenta sozinha. Acuados pela força invencível dos fatos e pela delação da Odebrecht, bandidos farão de tudo para se proteger, mesmo que isso signifique pavimentar o caminho para a eleição de um completo ‘outsider’ em 2018. A prioridade deles é escapar da cadeia.

A cada dia fica mais evidente que o braço da Justiça é longo o suficiente para alcançar qualquer um, até ex-governador, desde que não tenha mais foro privilegiado. A cada dia fica mais evidente o contraste entre os trabalhos de Curitiba e Brasília: a primeira pega todo mundo, a segunda fica só na listinha. Rodrigo Janot e o STF em breve ficarão em situação muito difícil.

Somos privilegiados. Ganhamos, no espaço de nossas vidas, uma Mãos Limpas, mas já com a existência da internet e dos movimentos de rua. Estamos chegando ao final de um capítulo da História do Brasil. Se fizermos a nossa parte, as páginas seguintes podem ser bem diferentes. Se fracassarmos, elas estarão cheias de fotos dos mesmos velhos personagens.

***

(Nota: este artigo foi publicado originalmente em minha coluna semanal no Implicante).

Deixe um comentário

Arquivado em Colunas

Livro mostra que a editora da revista VEJA era cheia de comunistas

roberto civita_o dono da banca_cede silva

ROBERTO CIVITA(1936–2013; pronuncia-se “TCHÍ-vita”) fundou a revista VEJA e presidiu o Grupo Abril de 1990 até sua morte. É um dos principais nomes do jornalismo brasileiro. Foi responsável por criar ou trazer ao Brasil quase todas as suas principais revistas, como QUATRO RODAS, CLAUDIA, NOVA, PLACAR, PLAYBOY, EXAME, VEJA SÃO PAULO e muitas outras.

Carlos Maranhão é um dos melhores e mais experientes jornalistas brasileiros. Trabalhou por mais de 40 anos na Editora Abril. Foi escolhido por Roberto Civita para escrever sua biografia autorizada. Como o patrão morreu antes de Maranhão escrever o livro, este optou por publicar uma biografia não autorizada pela família (que não obstante deu entrevistas e emprestou inúmeros documentos). “Roberto Civita — O Dono da Banca” (Companhia das Letras, 534 páginas) chegou às livrarias neste ano.

Trata-se de uma biografia primorosa e uma aula de Jornalismo com J maiúsculo, em um texto saboroso que se devora em poucos dias. Mas como o espaço nesta coluna é limitado, vou me concentrar em um aspecto do livro: ele documenta como as redações da Abril estavam cheias de militantes comunistas, em grande parte à revelia do Dr. Roberto. Cito um trecho sobre a revista REALIDADE, uma, digamos assim, tia-avó de VEJA:

“Roberto, porém, demorou a identificar o terreno em que estava pisando. Não percebia que comandava gente politicamente engajada — do lado oposto ao seu — e em parte com vida dupla. Ele diria que em seus anos nos Estados Unidos não conheceu um único esquerdista. Achava que uma pessoa inteligente e informada não poderia ser comunista” (pág. 127).

É o próprio Roberto Civita quem fala neste trecho gravado sobre a militância política de seus subordinados:

“A revista [REALIDADE] seria o resultado da conjugação de muitos talentos e energia. Eram talentos diferentes, com visões de mundo diferentes. Havia uma preponderância de esquerda, disfarçada. E também militância clandestina. Eu não percebi. Só me dei conta mais tarde das armadilhas. Eu não tinha sensibilidade para ver contrabandos nas matérias. Eles me driblavam. Não me considerava uma pessoa ingênua (…) Mas eu era. Anos depois, comecei a dizer para mim mesmo: ih, Roberto, aqui você foi enganado, ali você foi tapeado (…) [N]em me ocorreu que poderia existir no Brasil um pensamento de esquerda que eu considerava retrógrado” (págs. 127–128).

Citando alguns clubinhos: os jornalistas Paulo Patarra e Milton Coelho da Graça eram do PCB. Roberto Freire, o Bigode, era da Ação Popular (AP), bem como o pesquisador Duarte Pacheco, que depois atuaria no jornal “alternativo” ‘Movimento’. A base de apoio à ALN de Carlos Marighella tinha “vários jornalistas” na Abril. O próprio Patarra contou:

“A redação era um ninho de stalinistas, maoístas, cristãos de esquerda e esquerdistas etílicos” (pág. 126).

Tem mais. No início de 1970, quando VEJA já existia e a revista PLACAR estava para ser lançada, Juca Kfouri foi convidado para ser pesquisador de esportes. Quem ele consultou antes de tomar uma decisão? Joaquim Câmara Ferreira, o “Velho”, dirigente da ALN (ver pág. 344), que o “autorizou” (sic) a aceitar o emprego. Na época, Juca era militante da ALN e motorista de Velho (em tempo: Kfouri cobriu a biografia de elogios). Já em 1979, PLACAR era dirigida por Jairo Régis, “que, a exemplo de Milton [Coelho da Graça, diretor da revista INTERVALO] e Juca [Kfouri], atuava no Partidão” (pág. 345).

Existem outras tantas referências no livro sobre a militância clandestina de esquerda na Abril. Maranhão não se aprofunda nelas, já que seu objetivo era outro, e não ilustra exatamente por meio de quais decisões ou reportagens a esquerda passou a perna no patrão. Isso é assunto para outro livro. Duas conclusões são certas:

  • mesmo pessoas muito inteligentes e poderosas podem não enxergar a atuação da militância de esquerda debaixo do nariz delas. Podem até mesmo acreditar que comunista não existe.
  • sempre que alguém te disser que tal publicação ou tal empresa é “conservadora”, “reacionária” e etc., desconfie…

***

(Nota: este artigo foi publicado originalmente em minha coluna semanal no Implicante).

Deixe um comentário

Arquivado em Colunas

Os fracassos da esquerda se explicam pelo seu horror à Matemática

esquerda horror matematica_cede silva

UMA CARACTERÍSTICAS QUASE UNIVERAL de nossos intelectuais de esquerda é seu horror à matemática. Sabemos que “esquerda” e “povo de Humanas” são praticamente sinônimos no Brasil, já que as escolas e universidades têm Partido. Também sabemos que esses esquerdistas, vez ou outra, fazem piada de si mesmos com seu horror à matemática (“miga, não sei fazer conta, sou de Humanas”).

Não é difícil entender essa rejeição. A matemática oferece respostas claras, cristalinas, inegociáveis e independentes de contexto cultural. É o exato oposto da esquerda intelectual, que cultiva um vocabulário pedante, vive de “relativizações” e acredita na verdade absoluta de que não existem verdades absolutas, e sim diferentes “verdades”, “estéticas” e “narrativas” (salvo, é claro, a verdade absoluta de que o adversário é racista, machista, xenofóbico, homofóbico, etc. etc.).

O artigo Hábitos das pessoas altamente matemáticas, de Jeremy Kun, ajuda a entender que as habilidades praticadas na matemática têm enorme valor prático fora dela. A matemática nos ensina a:

1. Discutir definições

2. Produzir contra-exemplos

3. Errar com frequência e admitir

4. Avaliar várias consequências possíveis de uma afirmação

5. Desembaraçar as premissas que sustentam um argumento

6. Subir a escada da abstração

Com esta lista fica fácil concluir o seguinte: o horror à matemática é na verdade um horror aos fatos. Vamos retomar a lista acima com alguns exemplos de burradas recentes da esquerda brasileira.

1. Discutir definições — você conhece algum peteba capaz de definir o que ele entende por “elites”? Ele jamais poderia fazê-lo, porque seria difícil excluir dela gente como Marilena Chaui, Gregorio Duvivier, Chico Buarque e Gleisi Hoffman. O mesmo vale para todas as palavras ditas com o fígado, como “golpe” — se Dilma foi golpeada, Collor também foi? Naturalmente, sem definir claramente seus conceitos você não pode enxergar a realidade direito; no máximo pode agir para transformá-la sem entender o que está fazendo, o que é precisamente a natureza da invasão de escolas e de toda ação revolucionária.

2. Produzir contra-exemplos — pergunte a um esquerdista o seguinte: se fosse um grupo de pessoas vestindo a camisa da Seleção invadindo e ocupando escolas em nome de uma causa de direita (digamos, a redução da maioridade penal), ele ainda apoiaria as invasões? Um peteba sequer consegue conceber este cenário, e por isso não se pode dizer que avaliou a ideia plenamente antes de decidir se “concorda”. O mesmo vale para a brilhante tese: “se Cunha for preso, é bandido e portanto o impeachment foi golpe; se Cunha não for preso, é porque ele fez o impeachment para se salvar e portanto foi golpe”.

3. Errar com frequência e admitir — em matemática a gente erra bastante até acertar, e às vezes não acertamos. Mas um peteba não erra nunca, e por isso repete suas teses sempre. Exemplo: até meados deste ano, petebas clamavam por “eleições diretas”. Como o povo espancou o PT nas eleições municipais, conclui-se que o povo está errado, mas não a tese do “volta Lula”. Ou ainda: os partidos que insistiram na “narrativa” do “golpe” foram massacrados nas urnas, já que o impeachment teve enorme apoio popular. O que os esquerdistas propõem? Mais radicalização e uma nova “guinada à esquerda”. O PT não monopoliza a cabeça-dura, claro. O senador Aécio Neves, por exemplo, achou que poderia eleger João Leite da mesma forma que não elegeu Pimenta da Veiga…

4. Avaliar várias consequências possíveis de uma afirmação — este é certamente o hábito menos praticado pelos intelectuais que dominam as colunas de opinião e as seções de comentários no rádio e na TV. Para alguns exemplos, veja Sete vexames que a imprensa passou em 2016 por tratar os próprios desejos como fatos. Notem o seguinte: desmoralizados repetidas vezes pelos acontecimentos, os mesmos “especialistas” de sempre continuam falando nos jornais e TVs como se nada tivesse acontecido…

5. Desembaraçar as premissas que sustentam um argumento — outro hábito sempre ignorado pelo “povo de Humanas”. A cada eleição perdida pelo PT em São Paulo, por exemplo, sai a tese “o eleitor paulistano é muito conservador”. Lembro disso ter ocorrido já em 2008, na vitória de Kassab. O engraçado é que nunca ocorre ao intelectual a ideia de que o eleitorado é praticamente o mesmo e pouco muda em quatro anos. A cidade que elegeu Doria é a mesma que elegeu Haddad. O Estado que elegeu Serra para o Senado é o mesmo que manteve Suplicy por lá durante 24 anos. Conservador onde?

6. Subir a escada da abstração — até que os esquerdistas não são ruins de abstração. Só que em vez de usar o que aprenderam em um campo para resolver problemas análogos em outras áreas, eles usam as mesmas palavras-de-ordem — “opressão”, “desigualdade”, etc. para absolutamente tudo, desprezando qualquer necessidade de enxergar melhor o objeto de cada questão. O resultado mais claro disso é viver na própria cabeça, no confronto puramente de ideias, e ignorar a realidade. Um exemplo: Haddad e as ciclovias. Como Haddad é da turma do bem e as ciclofaixas são uma boa “causa”, tudo “a favor” das ciclovias é bom e ponto final. A implementação da ideia na prática não importa: se as ciclovias estão sob calçadas estreitas, se as calçadas estão em mau estado, se foram dispostas em ruas perigosas, etc. A ideia basta por si, e é ridículo — na verdade, inconcebível — que alguém possa ser ao mesmo tempo favorável à ideia mas crítico de sua execução. Outro exemplo: a ideia absurda (mas que eu já li) de que o “projeto” de Haddad foi rejeitado nas urnas. Qualquer pessoa razoável entende que o paulistano aprovou sim o projeto de Haddad — em 2012, quando o prefeito passou na entrevista de emprego e recebeu uma chance. Em 2016, esse mesmo povo rejeitou a execução, não o projeto. Mas isso é “abstrato” demais para nossos intelectuais de esquerda, e por isso eles seguem condenados a repetir os mesmos erros.

Não fiz na carreira na área, mas tenho gostado cada vez mais de matemática. Recomendo o curso online Effective Thinking Through Mathematics, que acabo de concluir. O amor à matemática é amor à verdade. E vocês conhecem a frase: a verdade nos libertará….

***

(Nota: este artigo foi publicado originalmente em minha coluna semanal no Implicante).

Deixe um comentário

Arquivado em Colunas

A invasão de escolas é a mais descarada Escola COM Partido

cruj_escola sem partido_cede silva

E MAIS UMA VEZ o Brasil assiste ao movimento “estudantil”, de forma absolutamente “espontânea”, invadir e ocupar locais públicos em prol de pautas do PT.

Tratam-se de jovens tão ousados, tão revolucionários, tão espontâneos e tão independentes quanto a turminha do antigo CRUJ (Comitê Revolucionário Ultra-Jovem), de um programa de TV das antigas: eles usavam máscaras e faziam pose de rebeldes, mas na verdade trabalhavam a serviço de um império. No caso do CRUJ, era o império do simpático camundongo Mickey; no caso dos jovens pró-PT, os mestres são outros ratos…

Dois vídeos dizem em quatro minutos mais do que eu poderia dizer em várias páginas. O deputado federal Helder Salomão (adivinhem de qual partido) conta aos estudantes de uma escola invadida os objetivos do PT com a bagunça: atrasar a votação de pautas do governo Temer e deixá-las pro ano que vem, e quem sabe sensibilizar o Senado para fazer uma alteraçãozinha na PEC 55 (ex-241) para que ela volte à Câmara. Em seu Facebook, o deputado já documentou várias de suas visitas a escolas invadidas no Espírito Santo, incluindo a promoção de “debates” (como sabemos, petistas promovem “debates” sem que haja interlocutores com opinião diferente).

Salomão também parabenizou os alunos pelo “foco” (na pauta do PT), lembrou da jovem Ana Júlia (também defensora de pautas do PT), e disse que “deputados e senadores têm medo da reação do povo”, sem dúvida uma lição que ele aprendeu quando Dilma sofreu impeachment. O melhor: o deputado alerta os alunos para não se deixarem “instrumentalizar” por gente “querendo tirar proveito” deles!

Todos os defensores dessas invasões, sem nenhuma exceção, estavam há poucos meses ridicularizando o projeto Escola Sem Partido, negando qualquer uso das escolas em favor do PT. Nenhum deles cogitou invadir escolas quando Dilma cortou 10% do orçamento do MECfechou o Ciência sem Fronteiras ou contratou Renato Janine Ribeiro (cujas credenciais eram tão boas que foi trocado em poucos meses pelo não menos genial Aloizio Mercadante). Como vemos, a turma do CRUJ é boa de audiência, mas vai mal em aulas de lógica, matemática e história. Nunca foi um programa educativo.

***

(Nota: este artigo foi publicado originalmente em minha coluna semanal no Implicante).

Deixe um comentário

Arquivado em Colunas

Renan, Crivella e os serviços de inteligência na política

renan_crivella_freixo_cede silva

DOIS ACONTECIMENTOS MARCARAM o noticiário político desta semana: a Operação Métis contra a Polícia do Senado e a capa de VEJA sobre o senador Marcelo Crivella (a decisão de Teori Zavascki sobre a Métis é apenas um desdobramento do fato original). Em comum, ambos os fatos mostram a importância de serviços de inteligência para os atores políticos.

Renan Calheiros, senhor das Alagoas e do Senado, se apropria de tudo. As despesas de sua amante foram pagas por uma empreiteira. Usou a gráfica do Senado para promoção de sua imagem. Fez o que pôde para atrasar e frear o processo de impeachment de modo que ele estivesse com as rédeas. É apenas natural esperar, de um homem com esse comportamento, que se apropriasse também da Polícia do Senado. Segundo a investigação da Métis, os policiais a mando de Renan foram encarregados de localizar e remover, nas casas de senadores e até do Sarney, grampos autorizados pela Lava Jato.

Se policiais conseguem localizar e eliminar grampos, a que distância estão de também saber instalá-los? Renan admitiu que sabia das varreduras da Polícia do Senado. Ora, para fazer as varreduras é preciso, no mínimo, suspeitar que os grampos existem. Renan, portanto, tinha (e talvez ainda tenha) ao seu dispôr no mínimo um aparato de contra-inteligência, para negar ao adversário a obtenção de informações sobre si e seus aliados. A Polícia Federal, ao deflagrar a Métis, avaliou corretamente que precisa primeiro desmantelar ou ao menos expôr esse serviço antes de continuar suas investigações.

A Métis também lança luz num dos episódios mais marcantes do impeachment: quando Renan brigou com Gleisi no plenário do Senado. Lembram do que Renan disse?

“Ontem (25 de agosto) a senadora Gleisi chegou ao cúmulo de dizer aqui que o Senado Federal não tinha moral para julgar a presidente da República. Como uma senadora pode fazer uma declaração dessa? Exatamente, sr. Presidente, uma senadora que há 30 dias o presidente do Senado Federal conseguiu no Supremo Tribunal Federal desfazer o seu indiciamento e o do seu esposo (protestos crescentes de alguns senadores; dizem “que baixaria!”) que havia sido feito pela Polícia Federal. Isso não pode acontecer, é um espetáculo triste que vocês estão dando para o País (Lewandowski suspende a sessão)”.

Na época, entendemos que Renan se referia a meras gestões dele no STF em favor de Gleisi. Hoje sabemos que serviços de inteligência também fazem parte de seu arsenal.

***

Sobre a capa de VEJA com Marcelo Crivella, algumas considerações preliminares:

– A denúncia que a revista traz contra o senador é, sim, grave;

– VEJA fez a decisão correta — a única possível — de publicar. Tinha a notícia na mão, apurou e publicou;

– Quem LEU a revista constatou que VEJA deixa bem claro, corretamente, que ainda mais grave do que o que Crivella fez em 1990 é o fato de que o inqúerito e as fotos tenham ficado escondidos, e por tanto tempo;

– Quem ofereceu a pauta a VEJA (em vez de outro veículo) foi muito esperto. Em um jornal diário, a repercussão seria muito menor. A capa dramática de uma semanal, em especial a maior do Brasil, carrega muito mais peso. Na TV a história não poderia ser contada com o mesmo impacto, em especial na Globo, rival da Igreja Universal. Ao ser revelada em VEJA, a notícia ganha o maior impacto possível e ainda assim pode aparecer na TV, como o ‘RJTV’ fezcom muito gosto em matéria de 4 minutos. Notem que a capa de VEJA com Crivella não foi pauta do ‘Fantástico’ nem do ‘Jornal Nacional’, um sinal de que a Globo entende (corretamente) que a informação é indispensável apenas para o eleitor carioca…

Dito isso, fica uma pergunta que até agora ninguém respondeu: se as fotos e o inquérito de Crivella ficaram escondidos durante esse tempo todo, como não apareceram antes?

Esclarecendo: por que não apareceram na eleição municipal de 2008? Por que não apareceram na eleição de 2010, quando Crivella foi reeleito para o Senado, ou em 2014, quando tentou o governo do Estado? Ou ainda: por que só vieram à tona no 2º turno desta eleição, e não antes do 1º?

Os “analistas” que estão sempre de blábláblá na Globonews gostam muito de falar em “fatos políticos”, mas nada falam sobre o papel dos serviços de inteligência — oficiais ou não — que trabalham nas sombras a favor de certos políticos.

***

(Nota: este artigo foi publicado originalmente em minha coluna semanal no Implicante).

Deixe um comentário

Arquivado em Colunas